“O açaí é a uva das bandas de cá”
O governo do Estado do Acre, através da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), realizou e idealizou uma pesquisa a respeito da complementação histórica da região produtora do açaí mais notável do estado, Feijó.
O estudo foi realizado por meio de uma parceria firmada entre SEBRAE – AC; FEM, através da DPHC – Divisão de Patrimônio Histórico e Cultural; e pelo NEPHI – Núcleo de Estudos e Pesquisas do Patrimônio Histórico Imaterial, como parte do projeto AC IG – Indicações Geográficas.
A pesquisa aconteceu durante todo o ano de 2021. O Sebrae convidou a representante da FEM na área de Patrimônio Histórico, Irineida Nobre, historiadora, gestora de políticas públicas, para fazer a contextualização histórica do açaí de Feijó.
O projeto objetivou registrar a complementação histórica do Dossiê de Notoriedade da região produtora do açaí de Feijó, através de um material audiovisual e escrito elaborado por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas de campo, reuniões com lideranças locais, produtores, agricultores e associações.
A RELAÇÃO ENTRE O MUNICÍPIO E O AÇAÍ
O açaí produzido em Feijó é considerado por muitos críticos como o melhor do Brasil devido a sua espessura mais grossa e sabor mais doce. O município de Feijó fica localizado na região central do estado do Acre.
Em Feijó, o açaí transpassa as fronteiras da ingestão como alimento e percorre todo esse caminho de conectar as pessoas com uma identidade forte e geograficamente muito bem delimitada: “O açaí de Feijó”, expressão que pode ser ouvida com muita facilidade em todo território acreano.
A identidade visual da cidade é algo que chama a atenção em Feijó, pois a cor roxa é muito presente na pintura de muitas casas, fachadas de instituições de ensino, espaços recreativos e até na pintura dos veículos de táxi local. O preço da tinta roxa também é diferente, o que demonstra que a cidade reconhece o fruto como símbolo.
SOBRE O FRUTO
O Açaí é uma espécie nativa das várzeas da região amazônica, especificamente da Venezuela, Colômbia, Equador, Guianas, e Brasil: nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão e Tocantins. Deste fruto pode ser extraída a polpa, que pode ser utilizada para a produção de vinho, além de servir como acompanhamento de iguarias em outros pratos.
Na Amazônia, o açaí é consumido tradicionalmente junto com farinha, e há quem prefira fazer um pirão com farinha e comer junto com peixe assado ou camarão, ou consumir o vinho com açúcar.
O açaí possui ainda significativas quantidades de antocianina, nutriente responsável pela sua coloração roxa. Essa substância evita a degeneração celular, e subtrai o aparecimento de problemas cardiovasculares.
NOTORIEDADE DO PRODUTO
Os açaizeiros de Feijó são nativos, os chamados “açaí solteiro”, distribuídos por todo o território de forma impressionante e exuberante. São tantos “pés de açaí” que a impressão é de que para qualquer lugar, ou de qualquer janela que se olhe, lá tem um “pé de açaí” olhando de volta, relata a historiadora Irineida. O açaí possui grande importância cultural e social nas regiões, onde existem cooperativas, as quais produtores e trabalhadores do ramo buscam aumentar o escoamento da produção e a qualidade de seus produtos, aumentando assim o preço de venda.
O FESTIVAL DO AÇAÍ DE FEIJÓ
Quando foi criado, o festival consistia em ser uma troca de experiências entre produtores e de produtos derivados do açaí, sem fins comerciais. No entanto, com o passar do tempo, a celebração ganhou notoriedade e ainda passa por mudanças até os dias atuais.
É comum ouvir relatos de famílias, amigos e curiosos que se organizam em grupos e se deslocam de Rio Branco (capital acreana) e de outros municípios para prestigiar o Festival do Açaí de Feijó. A quantidade de público também impressiona. No ano de 2021, foi a primeira vez que o festival aconteceu de forma remota, mas mesmo assim houve grande participação de público.
Este festival mobiliza o estado inteiro. Além de poderem saborear o melhor açaí do Brasil, os festeiros podem curtir shows de celebridades locais e nacionais, o que faz com que o festival tenha muito crédito com a população acreana.
A PRODUÇÃO
As pesquisas sobre o fruto mostraram que o gosto do açaí muda de região para região; seu modo de ser feito; seu rendimento e sua intensidade. Feijó, no entanto, carrega isso em essência pela quantidade de palmeiras exorbitantes que possui, pelas famílias que vivem da produção do açaí e, principalmente, pelo fato do fruto ser o símbolo da cidade.
Para o presidente da COPERAÇAÍ, José Giovanni Nascimento, registrar a produção que ocorre é de suma importância para a valorização do trabalho. “A IG do açaí é importante em três grandes pilares: o primeiro é não perder a identidade; o outro é a parte econômica e a competitividade do produto e sua valorização de mercado; o terceiro é a sustentabilidade e manter a “mata em pé”, porque mais de 99% hoje da nossa produção é natural e nativa. Nós precisamos dessa “mata em pé”, então existem três pilares no Dossiê de Notoriedade da região produtora do açaí de Feijó que pode estimular e fortalecer aspectos da história e da cultura”, explica.
A pesquisadora e historiadora responsável por esse dossiê histórico do açaí, Irineida Nobre, não só indica a qualidade da produção e do fruto, mas também o festival de Feijó que possui importantes aspectos sociais, culturais e turísticos.
“Eu indico, para possível registro e salvaguarda, via decreto estadual e municipal, o festival do açaí de Feijó pelas diversas características apontadas na pesquisa, que levam esse evento de décadas de existência a um patamar de patrimônio histórico-cultural imaterial do Acre.”, explica.
ACESSE O DOSSIÊ: https://bit.ly/A%C3%A7a%C3%AD-de-Feij%C3%B3